Conheça a novíssima música do Pará: carimbó urbano, brega pop e uma geração que redesenha o som da Amazônia
07/12/2025
(Foto: Reprodução) Toró Açú e Batucada Misteriosa: encontro mostra a potência do carimbó urbano e como o ritmo ancestral dialoga com a Amazônia urbana
Psica
O som que vem da Amazônia tem conquistado o Brasil. Na última década, a música feita no Norte deixou de ser percebida como fenômeno regional para ocupar a bússola que aponta o caminho da nova música brasileira.
Da novíssima safra de artistas da região, a doce voz do brega pop Carol Lyne, a força do encontro dos batuques do Toró Açu e Batucada Misteriosa, e a criatividade cintilante do Selo Caqui representam a força da cena contemporânea paraense reunida do festival Psica que ocupa Belém de 12 a 14 de dezembro, com grandes nomes da música brasileira e atrações internacionais.
A edição de 2025 reúne nomes como Martinho da Vila, Jorge Aragão, Viviane Batidão, Edson Gomes, Melly, Patrícia Bastos, Terno Rei, Trio Manari, D’Água Negra e atrações internacionais como o trio japonês The 5.6.7.8’s e o colombiano Armando Hernández. Mas é a cena do Pará que sustenta a tese de que a música brasileira, neste momento, está olhando para a Amazônia.
“O Pará sempre teve voz, agora o Brasil inteiro está ouvindo”, afirma Gerson Dias, um dos curadores. Em sua leitura, a força da cena vem justamente do encontro entre tradição e experimentação
“O que se vê hoje é uma música que nasce nos territórios, nos quintais, nas periferias e nas pistas. É uma reinvenção contínua.”
Carimbó urbano
A nova música do Pará nasce antes de tudo na rua. O carimbó urbano — linguagem que mistura tambores artesanais, letras políticas, estética periférica e presença comunitária — transformou praças, orlas e mercados em espaços de criação.
“O carimbó não é só ritmo, é vivência. É a forma como a gente se movimenta na cidade. Escrevemos sobre ônibus lotado, água de coco, racismo e resistência. Nosso carimbó é urbano, subversivo e político”, diz Yuri Moreno, da Batucada Misteriosa, grupo de Icoaraci.
No quilombo Abacatal, o Toró Açú mantém a música como extensão do território.
“Nossa música é a voz do lugar onde vivemos e da luta dos mais velhos que abriram caminho. Cada composição é memória coletiva”, afirma Dawidh Maia.
Os dois grupos, presentes na programação do Psica, ajudam a explicar por que a cena paraense se tornou observada por curadores do país inteiro: ali, a tradição não é nostalgia — é metodologia de invenção.
brega pop de Carol Lyne
Reprodução
Brega pop
Se o carimbó urbano marca a pulsação coletiva, o brega pop de Carol Lyne expõe outro vértice da nova cena. A artista, um dos nomes de maior ascensão recente, mistura tecnobrega, pop e estética eletrônica numa chave emocional.
Carol Lyne, paraense de Breves, é um dos nomes que ajudam a reposicionar o tecnomelody no centro da música pop do Norte. Criada no palco desde criança, passou por bandas como a Banda da Loirinha, no calypso, e a Banda Batidão, onde mergulhou de vez no tecnomelody, antes de assumir a carreira solo em que compõe, canta e performa suas próprias faixas.
Em “Amor Próprio”, com mais de 700 mil visualizações, ela canta sobre autoestima, desejo e liberdade em cima de uma base que mistura calypso, brega, batidas eletrônicas e refrão grudento (“eu quero te amar, mas o meu amor próprio não vira ex”).
“Eu me identifico com os ritmos populares, calypso e brega me guiam, foi acompanhando grandes cantoras da nossa música que alcancei a minha força como artista nortista. Canto música regional, popular e ritmos que vêm da periferia, não desisto dos meus sonhos de também cantar tecnomely para o resto do país”, diz Carol Lyne.
Leonardo Pratagy e Reiner: criadores do Selo Caquí
Tita Padilha
Coletivo sonoro
Enquanto a rua dita ritmo e artistas como Carol ampliam o alcance digital, a experimentação coletiva vem ganhando forma no Selo Caqui, criador da coletânea Marés, que reúne dez artistas de estéticas distintas, entre eles Marés com Sidiane Nunes, Agarby, Laiana do Socorro, Mist Kupp e Paso.
Para Leonardo Pratagy, produtor e articulador do selo, o impacto está na soma das diferenças. “São artistas muito distintos, cada um com uma estética única. Quando a gente junta, a música ganha força. A diversidade vira potência.”
A presença do Caqui no Psica evidencia como o festival funciona mais como vitrine do que como motor da cena: a curadoria reconhece e amplifica movimentos que já estão em curso.
Ao acompanhar a transformação da cena desde 2012, o Psica tornou-se um ponto de observação privilegiado da música amazônica. Para o diretor Jeft Dias, o que define a força da região é justamente o cruzamento de mundos.
“Somos o lugar onde o carimbó encontra o superpop, onde a guitarrada encontra o R&B, onde o Brasil encontra a Pan-Amazônia. Essa diversidade é o que move a gente.”
Serviço
Festival Psica 2025 – O Retorno da Dourada
Onde: Cidade Velha e Mangueirão
Quando: 12, 13 e 14 de dezembro de 2025
Ingressos: Passaportes a partir de R$ 125 (meia) disponíveis na Ingresse
Gratuidade: Lista TransFree e PCD's
Redes: @festivalpsica / Site Oficial
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