O que dizem os depoimentos de mãe, padrasto e tia paterna de menino de 2 anos que morreu no Rio
26/07/2024
Em depoimento na delegacia, tia paterna diz que recebeu denúncias de que a mãe da criança e seu padrasto agrediam Kaleb Gabriel. Questionados, os dois negaram as acusações e dizem que criança caiu da cama e foi encontrada morta com vômito e líquido amarelo. Polícia investiga o caso. Polícia investiga morte do menino Kaleb Gabriel da Cruz, de 2 anos
Reprodução
Parentes de Kaleb Gabriel da Cruz Lisboa deram depoimentos com diferentes versões sobre o que ocorreu com o menino, morto há uma semana após dar entrada no hospital com um trauma no abdômen.
A tia por parte de pai disse em seu depoimento que várias pessoas relataram que o menino era agredido pela mãe e pelo padrasto.
Os dois, por sua vez, negaram as acusações de agressão e insistem em dizer que a lesão abdominal de Kaleb aconteceu após a criança cair da cama. Após ser levada ao hospital "vomitando amarelo", a criança acabou morrendo no dia seguinte. Eles fizeram um boletim de ocorrência contra os médicos do hospital Albert Schweitzer, onde Kaleb foi atendido.
Na 31ª DP (Ricardo de Albuquerque), a tia da criança ainda pediu medidas protetivas para o irmão mais novo de Kaleb, com base na lei Henry Borel, batizada em homenagem ao caso do menino de 4 anos que morreu em 2021. O principal suspeito pela morte de Henry, o ex-vereador Jairinho, está preso até hoje, e aguarda júri popular.
O caso de Kaleb é investigado como morte sem assistência médica.
Tia fala em agressões desde bebê
Um laudo aponta que o menino morreu após um trauma no abdômen. A mãe, Aline Júlia da Cruz Conceição, e o padrasto Matheus Pereira Rufino Isidoro afirmam que ele bateu em um pedaço de ferro do sofá cama onde dormia, e por isso foi encontrado reclamando de dor na região abdominal. Segundo a mãe, a criança, "vivia caindo" e era muito "arteira", por isso tinha machucados e "ralados" em várias partes do corpo.
De acordo com o legista, o pâncreas chegou a se romper. A lesão, segundo o especialista, não é compatível com uma queda da cama, e o menino não apresentava nenhum ferimento na cabeça. O rompimento pode ter sido causado por conta de algum machucado antigo, mais profundo.
No depoimento, Aline e Matheus afirmaram que estão proibidos de voltar aonde moram, por ameaças de criminosos, e confirmaram que o irmão mais novo de Kaleb está na casa da avó paterna.
Polícia investiga morte de menino de 2 anos na Zona Norte do Rio
Erica Lisboa é irmã do pai de Kaleb, assassinado há cinco meses. A tia da criança contou na 31ª DP que Aline e o ex-marido brigavam muito, segundo relatos da avó do menino, e que Aline já batia em Kaleb quando ele tinha apenas 9 meses de idade. A mãe, no depoimento na delegacia, nega.
Erica contou que, após ficar sabendo da morte de Kaleb, ouviu do irmão de Aline que ela e Matheus batiam na criança "igual gente grande", e que ele não acreditava na versão que a criança tinha sofrido uma lesão após cair da cama.
A tia de Kaleb disse que foi até a casa, e que na verdade viu não uma cama, mas sim um "sofá cama sem grades"
Kaleb tem um irmão mais novo, Allan, de menos de um ano de idade, e o irmão de Aline pediu para que tirassem a criança do convívio da mãe e do padrasto.
Erica disse que, após prestar o primeiro depoimento na delegacia, recebeu diversos relatos de que Kaleb sofria maus-tratos em casa, pela genitora e pelo padrasto.
Ouvida na delegacia, Aline nega que tenha agredido seu filho Kaleb, e que as pessoas que dizem que a criança era agredida falam "sem conhecer".
Ela diz que colocava a criança de castigo, em cima da cama, sem brinquedo e sem assistir televisão, e que quando a criança "aprontava" dava uma "chinelada" na perna dele.
Em seu depoimento, a tia de Kaleb questiona sobre uma queimadura que teria deixado uma marca no peito do menino. A mãe e o padrasto disseram na delegacia que a queimadura tinha ocorrido porque Kaleb foi atingido pelo óleo que espirrou da panela quando a mãe estava fritando um frango.
Segundo a mãe, a criança estava brincando com uma bola na cozinha. Questionada se o levou ao hospital, ela disse que apenas passou uma pomada que tinha em casa.
Dia do atendimento
Parentes se desesperam em velório de menino Kaleb
Arquivo pessoal
A mãe contou em depoimento que, no dia 16 de julho, Kaleb e seu irmão mais novo ficaram aos cuidados de Matheus. Por sua vez, ele disse que ouviu um barulho e encontrou Kaleb com uma das pernas presa entre um pedaço de ferro e o "braço" do sofá-cama onde a criança dormia. O ferro serviria, segundo ele, para armar e desarmar a cama.
A criança começou a reclamar de dores na região abdominal, e apontou para o ferro como o lugar onde teria se machucado. Matheus disse que pediu que Aline fosse com ele até a Upa de Ricardo de Albuquerque, onde a criança teria começado a vomitar um líquido "muito amarelo".
Os dois, em depoimento, afirmaram que saíram da UPA para ir até o hospital Albert Schweitzer, em Realengo, para fazer um exame de Raio-X. Depois de três horas, chegou o resultado, e o médico teria dito a Aline que não havia nenhum problema com Kaleb.
Ela insistiu que ele estava com dor na barriga, e o médico respondeu que era normal por conta da queda. O médico receitou ibuprofeno e um remédio para enjoo e deu alta para Kaleb.
Aline diz que, quando chegaram em casa, a criança parecia estar bem, e que não quis jantar: pediu um copo d'água e foi dormir. No dia seguinte, Aline foi trabalhar e Matheus foi acordar Kaleb e trocar sua fralda. Ele disse que encontrou a criança paralisada e com o corpo gelado, e "um pouco de algo que parecia vômito e um líquido amarelo".
Ele alega que chamou Aline, que ao ver o estado do filho ficou em estado de choque.