Ser Acessível: entenda como atitudes comuns no dia a dia são capacitistas e impedem a inclusão

  • 19/05/2025
(Foto: Reprodução)
Especialistas destacam que preconceito pode ser invisível, quando a pessoa com deficiência é excluída, e como isso atrapalha a inclusão na educação. 'Problema não é errar, é não se abrir para aprender', diz Guilherme Bara. Ser Acessível: professor da Unicamp destaca capacitismo como principal barreira Pode ser que você nem tenha percebido, mas é bem provável que, em algum momento da vida, seja na escola, trabalho ou na rua, mesmo sem intenção, tenha tomado alguma atitude capacitista. Mas para entender o porquê e como isso ocorre, é preciso responder a primeira pergunta: o que é capacitismo? 🔎 Capacitismo é a palavra usada para definir discriminação e preconceito contra pessoas com deficiência, associando-as a seres humanos inferiores ou menos capazes. E de onde vem esse preconceito? O professor Régis Henrique dos Reis Silva, da Faculdade de Educação da Unicamp, explica que o conceito ganhou força na sociedade moderna. “Você passa a ter na modernidade um ideário que, de certa forma, há aqueles que vão ser considerados mais produtivos, portanto, mais capazes, e aqueles que vão ser considerados improdutivos, no caso, os incapazes. E aí dentro desse grupo dos considerados incapazes é onde boa parte das pessoas com deficiência foram classificadas. O capacitismo está muito relacionado a isso.” E o medo de errar é um problema? Esse comportamenteo de entender que uns são menos capazes que outros, reproduzido por anos, cria barreiras até mesmo "invisíveis" no caminho da inclusão. Entre elas, o medo de errar com pessoas com deficiência, o que faz com que elas sejam ignoradas no dia a dia. Uma ideia que precisa ser eliminada, explica Guilherme Bara, que ficou cego na adolescência e que atua como palestrante e consultor nas áreas de diversidade e compliance. “A gente que tem deficiência está acostumado meio que errem com a gente. Não erram com a gente só na escola. Erram no restaurante, no transporte, na nossa casa. Eu tenho deficiência visual e no meu caso estudo esse tema, mas em geral, as pessoas com deficiência visual sabem quase nada de deficiência física, que sabem quase nada de deficiência auditiva. O erro é natural. O problema não é errar. O problema é não se abrir para aprender”, diz. 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp Especialistas ouvidos para a série "Ser Acessível", coprodução do g1 e EPTV que aborda a inclusão e acessibilidade na educação básica, foram unânimes em classificar o capacitismo, uma barreira atitudinal, como a mais difícil de eliminar. Para além de rampas, pisos táteis, materiais adaptados e outros recursos de acessibilidade, incluir depende de uma mudança de comportamento, conhecimento, vontade e empatia. Ser Acessível: g1 e EPTV lançam série de reportagens em formato visual inédito com o máximo de recursos de acessibilidade Ser Acessível: TEA, PCD, SRM, criança não oralizada, tecnologia assistiva... glossário explica termos e siglas da educação especial O primeiro passo Um passo fundamental na busca pela erradicação do capacitismo passa pela necessidade de reconhecimento que ele existe. “O primeiro movimento é esse de tomada de consciência”, defende Régis Silva. Na avaliação de Andreia dos Santos de Jesus, palestrante sobre acessibilidade no 4ª Fórum Diálogos da Educação, a construção de uma sociedade mais humana passa pela necessidade de eliminar o capacistismo, e ela vê a escola pública como porta de entrada para essa mudança de comportamento. “É quase um pacto com a humanidade. A gente quer a humanidade mesmo, ou quer alguns da humanidade? E acho que a escola pública é onde a gente refaz esse compromisso. Há um caminho longo a ser percorrido, concordo. Muita a coisa a ser feita. Viver nessa diversidade dá muito mais trabalho. Mas o resultado disso pode ser um mundo melhor? Não tenho a menor dúvida disso”, diz Andreia. #paratodosverem: O professor da Unicamp, Régis Silva, visto de frente. Ele é branco de cabelos e barba grisalhos. Usa camiseta polo azul marinho Jefferson Souza/EPTV E o medo do erro? Guilherme Bara avalia que parte do distanciamento da sociedade no relacionamento com pessoas com deficiência passa por esse medo de errar e os julgamentos que são feitos a partir desse erro. “Lidar com erro é fundamental. Às vezes as pessoas excluem pessoas com deficiência não é porque elas são malvadas, é porque elas morrem de medo de errar”, explica. Com medo ou sem medo, eu garanto, você vai errar. Então nem precisa ter essa preocupação. E o problema não é errar.” Mas para aprender e ser anticapacistista é necessário reconhecer que não se sabe ou conhece pouco sobre o tema, que é vulnerável. E o consultor orienta que a melhor de maneira para aprender com base na realidade de outra pessoa “é perguntar mais e deduzir menos”. “Quando você deduz algo, às vezes, na boa intenção, sua fantasia em relação àquele tema vem à tona, que relaciona a deficiência com incapacidade, com coitadinho, com super-herói”. Excluir é mais fácil Segundo Bara, a pessoa com deficiência é, no inconsciente da sociedade, uma pessoa que tem uma vida muito difícil, e em vez de aprender a lidar, ela opta por excluir. “As pessoas pensam: ‘Imagina que tristeza ter dificuldade para enxergar ou não enxergar nada, dificuldade para ouvir, andar’. E na hora que vou interagir com ela eu ainda vou lá e erro? Meu Deus, aí que vou para o inferno direto. Então o que elas fazem? Buscam aprender? Não, elas vão para o caminho mais fácil, evitam o convívio. E quando falo pessoas, as instituições fazem isso, as escolas fazem isso”, pontua. Como ele ficou cego? O consultor de 47 anos conta que perdeu a visão por conta de uma retinose pigmentar, e o processo ocorreu durante infância e adolescência, período em que estudava em uma escola regular, e quando o assunto acessibilidade não era discutido. "Quando eu terminei a escola eu estava cego, mas foi um processo interessante, porque estudei numa escola regular, então eu era a única criança que tinha deficiência visual ali. E 35, 40 anos atrás, tudo era meio novidade, era na raça. Se tinha algum desafio que a escola não resolvia, tinha que ir na delegacia de ensino para não ser excluído das aulas. Minha mãe participou de todo esse desafio", lembra. A experiência pessoal serve como referência de que incluir é possível, mesmo com percalços. Numa época desafiadora, sem tantas ferramentas e conhecimento sobre o tema, ele avalia como positivo o processo enfrentado, que solidificou relações de amizades que duram até hoje. "Embora ninguém já tivesse feito curso de como incluir um aluno com deficiência visual, as pessoas estavam muito abertas a aprender. Foi bom para mim e muito bom para meus amigos poderem, no ambiente escolar, ter contato com alguém com essa característica. Isso fez certamente com que o que olhar deles fosse muito mais natural ao tema da pessoa com deficiência", diz. #paratodosverem: Fernando Evans sentado à mesa, em conversa online com Guilherme Bara, cujo rosto está na tela à frente Estevão Mamédio/g1 'Presença acelera o processo' Dentro do contexto da educação, Bara destaca que alguns colégios e instituições usam a justificativa de que tecnicamente não estão preparados para acolher, incuir, mas afirma que o medo não pode ser mais uma barreira no caminho da acessibilidade. O capacitismo mostra-se nesses momentos, em que o primeiro pensamento é acreditar que a criança ou adolescente com deficiência não tem capacidade de estar ali. "Inclusão na educação é fundamental", avisa. "Se você for esperar estar pronto para incluir, você não vai incluir nunca, porque nunca vai estar perfeito. Vai ser a presença do aluno com deficiência na escola que vai acelerar esse processo, que vai fazer a gente reparar naquele degrau, naquela falta de acessibilidade, na comunicação, seja para o aluno com deficiência, uma pessoa dentro do espectro autista. É a presença que acelera esse processo." Patrulha do erro ❌ Um dos fatores que tem impulsionado o medo de errar, seja no relacionamento com pessoas com deficiência ou não, está, na avaliação de Guilherme Bara, na forma como a sociedade atual "adora mostrar virtude em cima do erro alheio'. “Qualquer errinho, a gente parece ficar procurando vírgula para fazer um escândalo em cima do outro, para mostrar que a gente é virtuoso. Então, assim, será que a gente, de fato, está aberto para o erro, ou quer apontar o dedo para se sentir bem?”, questiona. Bara vê tal comportamento como hipócrita, primeiro por não reconhecer que todo mundo é vulnerável, e também por ser uma ação que em vez de facilitar, afasta o cidadão comum do tema sobre acessibilidade e inclusão. “Isso não quer dizer que vamos errar e está de boa. Não, não. O ideal é não errar, mas o mais importante é a gente se abrir para aprender e o erro faz parte do processo”, completa Bara. Ser Acessível: g1 e EPTV lançam série de reportagens em formato visual inédito Processos formativos O professor Régis Henrique dos Reis Silva, da Unicamp, aponta que um meio para eliminar o capacitismo passa por processos formativos, o que envolve conscientização e capacitação profissional, mas que isso por si só não é a solução. “Essa mudança mais substantiva em relação ao capacitismo começa com os processos formativos, mas é preciso muito mais do que só processos formativos para a gente pensar, de fato, uma sociedade em que não exista o capacitismo”, defende. "Pensar mais sobre todos!" Na avaliação da professora Andreia dos Santos de Jesus, a educação inclusiva precisa ser tratada como um compromisso em que cada vez mais esteja na escola quem tem direito de estar nela, em um sistema que ainda “pensa muito pouco sobre todos”. Para Andreia, “a escola precisa acreditar que tem o que ensinar”, e o tema tem de ser tratado com a devida importância, já que as crianças com deficiência “são a bola da vez”. “Elas chegaram à escola, é fato”, diz. Tempo para ouvir Formada em pedagogia pela Faculdade de Educação da Unicamp, a professora destaca que pouca gente acredita que a pessoa com deficiência possa dizer algo, mas o exercício agora envolve não só olhar, mas ouvir – da forma que a pessoa puder se expressar. “A gente sempre acha que a gente tem que acertar. Então oferta, oferta, oferta, e não dá espaço para a criança responder, porque às vezes ela responde mais vagarosamente, ou não é oralizada. Mas ela tem outras formas de expressão, e a gente precisa entender, e isso demora um pouco mais”, pondera. Segundo Andreia, por conta desses elementos, o tempo é um fator a ser reconsiderado, seja nas políticas públicas, seja nas escolas, pois o tempo para as coisas acontecerem é diferente para diferentes pessoas, com ou sem deficiência. “É preciso aceitar isso e continuar lidando que existe humanidade ali dentro daquela pessoa. Porque quando não responde do jeito que você aguarda, você passa a questionar se tem gente ali dentro, sabe? Então a gente só vai construir esse olhar se efetivamente tiver uma disposição para conversar”, completa. VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região Veja mais notícias da região no g1 Campinas

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/ser-acessivel/noticia/2025/05/19/ser-acessivel-entenda-como-atitudes-comuns-no-dia-a-dia-sao-capacitistas-e-impedem-a-inclusao.ghtml


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