Ciúme, tráfico e vingança: disputa amorosa vira gatilho de guerra armada entre gangues por pontos de droga em Rio Preto
24/11/2025
(Foto: Reprodução) Uma disputa amorosa deu início a uma sequência descontrolada de homicídios em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, quando a ex-namorada de um homem se relacionou com outro rapaz da gangue rival. O envolvimento foi o estopim para a guerra por território de tráfico e deixou um rastro de mortes e medo na Zona Norte e Leste da cidade.
De acordo com a Polícia Civil, a rivalidade começou em 2019, com a briga amorosa de jovens de bairros diferentes e rapidamente se misturou à disputa por pontos de venda de drogas, que resultou em pelo menos 37 homicídios ou tentativas de homicídio em um período de um ano.
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Os dados e informações do inquérito policial foram obtidos com exclusividade pela equipe da TV TEM e são exibidos na série de reportagens especiais, intitulada “Guerra de Gangues”, a partir desta segunda-feira (24).
O primeiro confronto envolveu moradores dos bairros Santo Antônio e Vila Toninho, regiões que somam hoje quase 15 mil habitantes. A guerra, no entanto, se espalhou para outros bairros, como Solidariedade, Vila Elmaz, Jardim Arroyo, Vila União, Nova Esperança, Parque da Cidadania e São Tomás.
Bairros afetados pela guerra de gangues em Rio Preto (SP)
Reprodução/TV TEM
Ponto de tráfico próximo à escola
Pontos de venda de droga mais disputados pelos traficantes em Rio Preto (SP)
Reprodução/TV TEM
Um dos símbolos da disputa é um imóvel que, à primeira vista, parece apenas mais um comércio de portas fechadas em Rio Preto. Segundo a polícia, ali funciona um dos pontos de venda de droga mais disputados pelos traficantes. Veja a foto acima.
Durante muito tempo, a venda era feita com as portas abertas. Hoje, o esquema é mais discreto: portões fechados e movimentação rápida. Tudo feito bem em frente a outro ponto de tráfico e a poucos metros de uma escola municipal no bairro João Paulo II.
Imagens de câmeras de segurança, obtidas pela polícia, mostram como era a rotina do local até o ano passado. As gravações revelam um fluxo intenso de usuários, incluindo mulheres com bebês e crianças. Veja no topo da reportagem.
O próprio grupo criminoso monitorava o espaço, demonstrando alto grau de organização. Segundo as investigações, o ponto funcionava cerca de 18 horas por dia e chegava a lucrar até R$ 20 mil por semana. O dinheiro abastecia a compra de armas, que “alimentam” a guerra entre as gangues.
Lucro do tráfico financia arsenal
Rian Lucas Braga Vieira da Silva (à esquerda), José Guilherme Lozano Júnior (ao centro) e Kalyson Signorini de Angelo Macedo (à direita)
Arquivo pessoal
De acordo com a Polícia Civil, parte desse dinheiro era usada para comprar armas de uso restrito, como submetralhadoras, além de pistolas semiautomáticas. O armamento, muitas vezes vindo de outros estados e até de fora do país, dava ao grupo um alto poder de fogo.
Fotos publicadas nas redes sociais pelos próprios criminosos mostram integrantes ostentando armas e munições como forma de intimidar rivais e demonstrar força. O arsenal e o tráfico de drogas contribuíram, nos últimos seis anos, para uma escalada de violência na cidade.
Nesse cenário, um dos chefes apontados pela polícia é Kalyson Signorini de Angelo Macedo, de 20 anos, que está preso. Ele é apontado como responsável por ordenar homicídios e tentativas de homicídios.
Outro investigado é o comparsa, Rian Lucas Braga Vieira da Silva, de 22 anos, também preso, suspeito de atuar ao lado de Kalyson nas execuções.
À TV TEM, o delegado responsável pelas investigações, Roberval Macedo, da Delegacia Especializada em Investigações Criminais (Deic), revelou o “modus operandi” dos integrantes das gangues.
“Eles tinham um modus operandi muito peculiar, que se tratava de um indivíduo conduzindo um motociclo e um garupa, que se dirigiam até determinado bairro e faziam alguns disparos”, revela o delegado.
Guerra armada entre bairros fez inúmeras vítimas em Rio Preto (SP)
Reprodução/TV TEM
Operações
A disputa por território, somada ao desejo de vingança pela morte de integrantes de cada “lado” na guerra, resultou em pelo menos 37 homicídios ou tentativas de homicídio em um período de um ano, segundo a Polícia Civil.
O cenário de violência ficou estampado em vários pontos da cidade: portões de comércios, como o de um serv-festas de fachada, exibem as marcas de tiros. Muros de casas em bairros como João Paulo II foram pichados com mensagens em homenagem a integrantes mortos, como “Escovão”, apelido de José Guilherme Lousano Júnior, que morreu em confronto com a polícia.
Diante da escalada da violência, a Polícia Civil montou operações específicas para desarticular as gangues. Até a última atualização desta reportagem, 54 integrantes foram presos, 11 adolescentes foram apreendidos e três suspeitos morreram em confrontos com policiais.
Mesmo com as prisões e a redução dos ataques, o monitoramento dos bairros envolvidos continua. A preocupação é evitar que novos grupos tentem ocupar os espaços deixados pelos antigos chefes e reacendam a disputa por pontos de tráfico.
🚔 'Guerra de Gangues'
Reportagem e apresentação: Monize Poiani
Produção: Janaína de Paula
Imagens: Eduardo Durú, João Selare, João Serantoni
Edição de imagem: Aristeu André
Edição de arte: Guilherme Orsi
Edição de texto: Thiago Vasconcelos
Edição de texto web: Desirèe Assis
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