Como Colômbia se tornou uma das melhores economias de 2025 e quais desafios enfrenta?

  • 27/12/2025
(Foto: Reprodução)
O crescimento econômico da Colômbia superou as previsões BBC/Getty Images A economia da Colômbia superou as previsões mais otimistas. O Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos pelo país) colombiano cresceu 3,6% no terceiro trimestre de 2025, na comparação com igual trimestre do ano anterior, sua maior expansão desde o fim da pandemia e bem acima das projeções da maioria dos economistas. Os analistas ouvidos pela agência Bloomberg esperavam um crescimento de, no máximo, 3,2%. Segundo a revista britânica The Economist, a economia da Colômbia apresentou, em 2025, o melhor desempenho da América Latina e o quarto melhor do mundo. 📱 Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça Veja os vídeos que estão em alta no g1 A lista inclui 36 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, organização conhecida como "clube dos países ricos"), do qual o Brasil ainda não se tornou membro. A título de comparação, o PIB do Brasil cresceu 1,8% no terceiro trimestre, em relação a igual trimestre de 2024, metade do avanço colombiano em igual período. Segundo José Antonio Ocampo, ex-ministro da Agricultura e da Fazenda da Colômbia e professor da Universidade Columbia (EUA), "a economia vai crescer mais do que o esperado, mesmo pelos mais otimistas, devido ao aumento do consumo público, mas também do consumo privado." Juan Carlos Mora, presidente do Bancolombia, um dos principais bancos do país, explicou como sua instituição percebe a situação atual. "A economia está muito melhor do que as pessoas pensam. Os empréstimos inadimplentes melhoraram substancialmente. As pessoas estão pagando mais, tanto as empresas quanto as pessoas físicas. O consumo está crescendo", resumiu. O que está acontecendo? As coisas estão realmente indo tão bem na Colômbia? E por quanto tempo esse crescimento pode durar? O que está funcionando na economia colombiana A retomada do crescimento após o fim da pandemia se acelerou no último ano. "Se olharmos os números de crescimento, tudo parece estar indo bem, já que a Colômbia cresce muito perto de seu potencial, de 3%", afirmou Nicolás Barone, analista da Deloitte para a Região Andina, à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC. "O consumo privado registrou uma reação positiva após um desempenho um pouco mais fraco nos anos anteriores", diz Ocampo. O emprego também apresenta números positivos. A taxa de desemprego está em 8,2%, o menor nível histórico. "É um número mais do que bom para a Colômbia", avalia Barone. Ocampo destaca que "a informalidade continua muito elevada, mas, quando se observa o crescimento do emprego neste ano, vê-se que três quartos dessa expansão foram de empregos formais". Embora o retorno de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos e suas divergências com o presidente colombiano, Gustavo Petro, tenham gerado temor de que a Colômbia fosse um dos países mais afetados por tarifas, isso não se confirmou. O país ficou sujeito à tarifa geral de 10% estabelecida para as exportações destinadas aos EUA, aplicada à maioria dos países da América Latina, e também se beneficiou da alta dos preços do café. Apesar das divergências com Petro, a Colômbia não figurou os países mais afetados pelas tarifas de Trump BBC/Getty Images "O setor agropecuário tem ido bem e é um dos que empregam um número significativo de pessoas", afirma Barone. Cultivos ilícitos, como a coca, podem ter exercido um efeito dinamizador sobre a economia, embora isso seja mais difícil de mensurar pela ausência de dados oficiais. Os últimos meses também foram marcados pela valorização do peso frente ao dólar. A desvalorização do dólar — decorrente, entre outros fatores, das dúvidas relacionadas ao aumento da dívida pública dos EUA e à redução das taxas de juros pelo Fed (o Banco Central dos EUA) — elevou o valor relativo de várias moedas latino-americanas, entre elas o peso colombiano. Para a Colômbia, os efeitos são ambivalentes. "O setor agropecuário está passando por dificuldades, pois recebe menos dinheiro por suas exportações, mas também pode haver um efeito dinamizador em setores importadores", explica Barone. O consumo privado tem sido um dos principais motores do crescimento recente da economia colombiana BBC/Getty Images Os problemas da economia colombiana Mas nem tudo são boas notícias. "Quando se detalha um pouco o que está por trás desse crescimento da atividade, surgem sinais de alerta, porque um dos fatores que o impulsionam é um gasto público insustentável", afirma Marc Hoffstetter, da Universidade dos Andes (Colômbia). "Os números do investimento estrangeiro estão totalmente deprimidos há vários anos, o que levanta sérias dúvidas sobre se podemos manter esse ritmo de crescimento." Hoffstetter e outros economistas avaliam que o aumento do consumo privado pode estar ligado, em grande medida, ao elevado volume de emprego público. Esse quadro, segundo eles, pode ser afetado quando avançar o processo de ajuste das contas públicas, considerado inadiável por muitos analistas. As estimativas mais recentes indicam que as contas públicas da Colômbia devem fechar 2025 com um déficit em torno de 6,2% do PIB, um patamar que preocupa especialistas e autoridades. A título de comparação, a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado brasileiro estima que o Brasil encerre este ano com um déficit de 0,6% do PIB. Para corrigir o déficit por meio do aumento da arrecadação, o governo de Gustavo Petro apresentou uma proposta de aumento de impostos que foi rejeitada pelo Congresso. Antes disso, ele já havia acionado a cláusula constitucional que lhe permite suspender a regra fiscal de controle do gasto público. Ocampo alerta que "o déficit fiscal gerado pelo aumento do gasto público é o problema mais grave e, de fato, não foi enfrentado pelo governo". O Banco da República, banco central da Colômbia, advertiu que o elevado déficit acumulado nos últimos dois anos pode contribuir para a alta dos preços e comprometer os objetivos de redução da dívida pública. Outro ponto negativo da economia colombiana tem sido a retração da atividade e a queda dos investimentos nos setores de mineração e petróleo. Este último foi afetado tanto pela queda dos preços internacionais do petróleo quanto pelo aumento dos impostos sobre hidrocarbonetos promovido por Petro. A inflação, cuja redução dá sinais de ter perdido fôlego, é outro dos desafios ainda pendentes da economia colombiana. Qual é a responsabilidade do governo Petro As previsões de colapso da economia da Colômbia com Petro no poder não se confirmaram BBC/Getty Images Algumas vozes alertaram para um possível efeito catastrófico sobre a economia com a chegada ao poder de Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda da história recente da Colômbia. Mas os números não indicam um colapso da economia colombiana desde que Petro assumiu a Presidência, em 2022. Nos últimos dois anos, seguiu uma trajetória "moderadamente positiva", segundo a consultoria Deloitte. Petro lançou projetos de grande alcance, como a reforma trabalhista, que prevê melhorias salariais para trabalhadores formais e maiores encargos para as empresas. Aprovada em junho de 2025, após uma tramitação tortuosa no Congresso, durante a qual o texto original foi substancialmente reduzido, a nova lei está em vigor há pouco tempo, o que dificulta a avaliação de seus efeitos. Críticos afirmam que a medida pode prejudicar a economia ao elevar o custo do trabalho para os empregadores e destacam que ela não beneficia os trabalhadores informais do país, que formam a maioria da força de trabalho. Para o governo, no entanto, "trata-se de uma reforma que não só protege o trabalhador, como também contribui para a consolidação do aparato produtivo do país", segundo afirmou o ministro do Trabalho, Antonio Sanguino. Petro não conseguiu que o Congresso aprovasse várias de suas reformas tributárias, propostas com as quais pretendia ampliar a arrecadação e os recursos do Estado e que poderiam ter tido um impacto significativo sobre a economia. Na prática, embora a economia não tenha sofrido o colapso previsto por alguns com a chegada de Petro ao poder, os economistas não atribuem ao presidente o mérito pelo bom momento. Barone afirmou que "as bases foram lançadas muito antes, e a economia colombiana já vinha apresentando bom desempenho antes da pandemia. Embora precisasse de alguns estímulos, o investimento estava se comportando bem". O especialista avalia que a chegada de Petro "gerou temor no empresariado e, nos últimos dois anos, o investimento diminuiu de forma considerável". O que pode acontecer a partir de agora O futuro da Colômbia será decidido, em grande medida, nas urnas, para as quais os colombianos estão convocados em maio de 2026. Quem quer que seja escolhido para suceder Petro, o novo presidente terá pela frente o desafio de reduzir o déficit fiscal e equilibrar as contas. "O governo que sair eleito terá uma tarefa complexa, porque precisará fazer ajustes", afirma Ocampo. A dimensão do corte de gastos e seu impacto potencial sobre os funcionários públicos será uma das primeiras questões incômodas que o próximo presidente colombiano terá que enfrentar. Barone avalia que os ajustes podem ser "graduais" e que, por ora, não são necessárias "medidas drásticas". "Estamos em um momento de alerta inicial", resume o especialista. Se corrigir o déficit fiscal e mantiver a confiança dos mercados, a Colômbia poderá seguir na trajetória de crescimento dos últimos anos, que lhe permitiu reduzir a informalidade e a desigualdade, dois de seus principais problemas estruturais. Ocampo acredita que o país se beneficiou do fato de que, nos últimos anos, ficou claro que "na Colômbia, as instituições funcionam. Há uma separação de Poderes e, nesse sentido, estamos nos tornando mais parecidos com o Peru". "A perspectiva para a Colômbia em 2026 é de otimismo cauteloso", conclui Barone. Com informações de José Carlos Cueto. Gráficos por Laís Alegretti, da Equipe de Jornalismo Visual da BBC News Brasil

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/12/27/como-colombia-se-tornou-uma-das-melhores-economias-de-2025-e-quais-desafios-enfrenta.ghtml


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