Fã de desenho e filho único: como era a rotina de Benício, morto após dose incorreta de adrenalina em Manaus
08/12/2025
(Foto: Reprodução) Caso Benício: veja cronologia do atendimento que levou à morte de criança
O pequeno Benício Xavier, de 6 anos, é descrito por familiares como uma criança alegre e apaixonada por desenhos animados. Filho único, faria aniversário de sete anos no dia 25 de dezembro. "O ser vivo mais puro que eu já encontrei", disse o pai, Bruno Mello de Freitas.
Benício morreu na madrugada do dia 23 de novembro. A médica admitiu o erro em um documento enviado à polícia e em mensagens em que pediu ajuda ao médico Enryko Queiroz, mas a defesa dela afirma que a confissão foi feita "no calor do momento". A técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva, responsável pela aplicação do medicamento, também é investigada. Ambas respondem ao inquérito em liberdade.
Segundo o pai, o menino costumava acordar cedo nos fins de semana para assistir a desenho animado. Ele fazia questão de acordar a família para compartilhar o momento.
"Ele me acordava sábado e domingo. Falava: 'pai, vamos lá pra sala'. Ele assistia muito, já imitava o desenho sem olhar. Já sabia todas as narrações que tinha no desenho", conta.
Durante a semana, Benício estudava no turno matutino. Os pais revezavam para levá-lo à escola. Pela parte da tarde, se ocupava com aulas de natação.
"Nossa tarde era assim. A gente sempre saía, tinha as atividades dele. No outro dia, a gente acordava cedo. Aos finais de semana que a gente se curtia mais em família, que a gente saía. Ele gostava de muito de ir em restaurantes com brinquedoteca", relembra a mãe Joyce Xavier.
Descrito como estudioso, Benício se formaria no ABC no último sábado (6). A formatura, realizada na escola onde Benício estudava, foi marcada por homenagens de colegas, professores e pais dos formandos (assista abaixo). Durante a cerimônia, também houve pedidos de justiça pela morte do menino.
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Investigação
No dia 26 de novembro, o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) abriu processo ético sigiloso para apurar a conduta da médica. O Hospital Santa Júlia afastou tanto Juliana quanto a técnica de enfermagem Raiza Bentes.
Em relatório enviado à Polícia Civil, ao qual a Rede Amazônica teve acesso, Juliana reconheceu que errou ao prescrever adrenalina na veia. Ela afirmou ter informado à mãe que a medicação deveria ser administrada por via oral e disse ter se surpreendido pela enfermagem não questionar a prescrição.
A técnica Raiza Bentes declarou que apenas seguiu o que estava registrado no sistema.
O delegado Marcelo Martins investiga o caso como homicídio doloso qualificado, considerando inclusive a possibilidade de crueldade.
O caso
Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia no dia 22 de novembro com tosse seca e suspeita de laringite. Segundo a família, ele recebeu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml a cada 30 minutos, aplicadas por uma técnica de enfermagem.
"Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado desse jeito. Mas afirmou que estava na prescrição", relatou o pai.
O menino piorou rapidamente: ficou pálido, com membros arroxeados, e disse que "o coração estava queimando".
A saturação caiu para cerca de 75%. Ele foi levado à sala vermelha e depois para a UTI por volta das 23h. Durante a intubação, sofreu as primeiras paradas cardíacas. Foram seis no total. Ele morreu às 2h55 do dia 23 de novembro.
Infográfico - Caso Benício
Arte g1
Pequeno Benício Xavier de Freitas morreu após receber dose de adrenalina na veia em hospital de Manaus
Divulgação