Não se joga no vaso: o papel higiênico no Brasil é diferente?

  • 18/07/2025
(Foto: Reprodução)
O papel higiênico no Brasil é diferente? Como a composição influencia o descarte Nuttawan Jayawan/Vecteezy A famosa regra de não poder jogar papel higiênico no vaso desperta polêmicas no Brasil, principalmente porque isso é um hábito em outros países. A limitação da infraestrutura do esgoto é apontada como uma das principais causas, mas a falta de exigências para que o papel se desfaça com facilidade também entra na conta, segundo especialistas ouvidos pelo g1. Na reportagem abaixo, o Guia de Compras vai abordar os seguintes tópicos: O que é preciso para o papel se desfazer na água? Quem decide se o papel é adequado para o vaso? Como é em outros países Papel biodegradável não pode jogar no vaso? Por que é tão difícil encontrar papel que pode ir ao vaso? O que diz a indústria Leia e entenda o que falta para estabelecer esse padrão no país. O que é preciso para o papel se desfazer na água? A característica que faz com que um papel possa ser descartado no vaso é a sua capacidade de se desagregar na água. E isso depende da forma como os diferentes modelos de papel higiênico são tratados durante o processo industrial. Apesar de não receber impermeabilizantes, como o papel-toalha, o papel higiênico costuma levar alguns tipos de aditivos, como os que o deixam mais aveludado ao toque, especialmente nos modelos "extra suaves". "Normalmente, se colocam aditivos para que as fibras fiquem mais macias, então (elas) também são mais persistentes”, explica Lúcia Coelho, professora de pós-graduação em ciência e tecnologia/química da UFABC. A quantidade de aditivos é um fator determinante para que o papel fique cada vez menos desagregável. Segundo Coelho, o papel ter “folha dupla” e “folha tripla” não necessariamente entra nessa questão. BANQUINHO PARA FAZER COCÔ: entenda prós e contras, e por que existe uma posição correta Quem decide se o papel é adequado para o vaso? No Brasil, quem dita a padronização de produtos é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ela dispõe de algumas normas sobre papéis para fins sanitários, o que inclui o papel higiênico. No entanto, são normas de classificação, que apenas categorizam os papéis de acordo com alguns critérios predefinidos pela organização. “São normas que se baseiam em desempenho, como alvura do papel, resistência à tração, quantidade de pintas nas folhas. É igual café, que se compra por classe 1, classe 2...”, conta Patrícia Kaji Yasumura, gerente técnica do Laboratório de Celulose do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O instituto realiza testes de produtos a partir de encomendas feitas por empresas. Aliás, para saber a classe de cada modelo de papel, é preciso verificar a tabela da ABNT, já que essa informação não deve obrigatoriamente constar na embalagem. Mas a especialista explica que os critérios da ABNT não incluem padrões de desagregação. Por isso, não é obrigatório colocar informação sobre esse aspecto nas embalagens de papel higiênico do Brasil. Existe ainda uma norma internacional utilizada como base para que os países padronizem seus testes de desagregação do papel, a ISO 12625-17:2021, mas ela também não define o que é aceitável ou não. “A norma traz somente o 'como fazer' (o teste de desagregação) e estabelece os critérios comuns”, diz Patrícia Kaji Yasumura, gerente técnica do Laboratório de Celulose do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O instituto realiza testes de produtos a partir de encomendas feitas por empresas. Isso significa que cada país pode interpretar de forma diferente o que é um papel "adequado" para ser jogado no vaso, deixando o consumidor sem uma referência clara. Nada impede que as empresas procurem o IPT, que oferece serviços de testes de desagregação do papel para controle de qualidade das marcas, mas Yasumura informa que não há muitos adeptos. "Usamos a ISO de referência. Mas são poucas as empresas que nos procuram, até porque não é um padrão de qualidade exigido para a venda ao consumidor. Raramente é feito, a não ser que tenha exportação”, conta. "A definição do que é ‘aceitável’ ou não pode ser de algum órgão regulador”, afirma Yasumura. Por que no Brasil não devemos jogar o papel higiênico no vaso? Como é em outros países A Espanha tem uma norma própria que define os critérios mínimos que papéis e outros materiais devem atingir para serem considerados descartáveis no vaso. É a Norma UNE 149002. Na Bélgica, o Decreto Real Belga de 18 de setembro de 2015 também criou regras para esse ponto. Esses e outros países que comercializam modelos de papel higiênico que se desfazem na água classificam esses produtos como hidrossolúveis, desagregáveis ou "flushable”, no termo em inglês. A falta de um padrão brasileiro dificulta a escolha consciente dos consumidores diante das prateleiras, segundo Lúcia Coelho, professora de pós-graduação em ciência e tecnologia/química da UFABC. “Como não tem uma normativa, falta uma transparência de informações na composição dos papéis”, diz Coelho. Papel biodegradável não pode jogar no vaso? Se a embalagem do papel higiênico diz que ele é biodegradável, significa que tudo bem jogá-lo no vaso? Não necessariamente. Biodegradabilidade é outro assunto, bem mais complexo. “Tudo no mundo é biodegradável, se esperar tempo suficiente”, diz Yasumura. Na prática, porém, um produto é considerado biodegradável quando ele se desmancha no ambiente em um determinado tempo, que pode ser de 90 dias a seis meses. O papel higiênico, por exemplo, costuma ser biodegradável por ser feito de celulose, que se decompõe dentro desse período. Mas isso está longe de ser rápido o suficiente para evitar entupimentos domésticos ou impactos no encanamento. Os testes de desagregação descritos na norma ISO 12625-17:2021 devem ser feitos agitando o papel na água por até 10 minutos – bem menos do que o tempo da biodegradação. Por que é tão difícil encontrar papel que pode ir ao vaso? Além da falta de regulamentação e informação, há também uma questão de custo e tecnologia. “Tecnicamente falando, é mais difícil fazer um papel desagregável”, diz Yasumura. “O papel higiênico é cheio de tecnologia, porque precisa ser feito um ajuste fino entre ele ter resistência para não esfarelar em contato com umidade e não perder a maciez”, explica a técnica. “Para produzir, é mais difícil, porque o maquinário pode romper as fibras, é um material mais frágil de manipular, então precisa ter uma tecnologia mais delicada”, completa Coelho. Para deixar o papel desagregável sem perder esse equilíbrio entre maciez e resistência, as fabricantes precisam investir mais no produto. “É preciso ter uma evolução da tecnologia, o que gera um aumento de custos”, explica Yasumura. No entanto, na opinião da técnica, as empresas não têm incentivos suficientes para investir nessa questão. “Existe um posicionamento geral de que o sistema de esgoto não comporta que as pessoas joguem o papel no vaso”, afirma Yasumura. Para a especialista, enquanto não houver mais estudos sobre a estrutura do esgoto, os investimentos em papéis higiênicos desagregáveis não serão uma prioridade. O que diz a indústria A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) defende que a capacidade de desagregação não depende apenas do papel higiênico. “Embora existam tecnologias para fabricação de papéis com maior capacidade de dispersão sem grandes impactos em custos, sua adoção em larga escala requer mudanças na infraestrutura de saneamento, além de ajustes nos sistemas de tratamento de esgoto”, disse a ABIHPEC ao g1. “A estrutura do sistema de saneamento no Brasil é projetada predominantemente para lidar com resíduos líquidos e limita a disposição de materiais sólidos, como o papel higiênico”, afirmou a associação. A ABIHPEC enfatizou que “o papel higiênico não é o principal causador de entupimentos”, e que “problemas desse tipo estão geralmente associados à estrutura das tubulações” e à disposição inadequada de outros materiais "que não deveriam ser descartados no vaso sanitário, como lenços umedecidos, absorventes e plásticos”. O Guia de Compras procurou também as fabricantes de papel higiênico Mili, Softys (das marcas Elite, Confort e Cotton) e Santher (da marca Personal) e a produtora de celulose e papel Suzano, que não quiseram comentar. Esta reportagem foi produzida com total independência editorial por nosso time de jornalistas e colaboradores especializados. Caso o leitor opte por adquirir algum produto a partir de links disponibilizados, a Globo poderá auferir receita por meio de parcerias comerciais. Esclarecemos que a Globo não possui qualquer controle ou responsabilidade acerca da eventual experiência de compra, mesmo que a partir dos links disponibilizados. Questionamentos ou reclamações em relação ao produto adquirido e/ou processo de compra, pagamento e entrega deverão ser direcionados diretamente ao lojista responsável.

FONTE: https://g1.globo.com/guia/guia-de-compras/casa/nao-se-joga-no-vaso-entenda-se-o-papel-brasileiro-e-diferente.ghtml


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